O BCG Henderson Institute, do Boston Consulting Group, identificou oito medidas que podem ajudar as empresas a se adaptarem às mudanças de comportamento que tendem a transformar os mercados no cenário pós covid-19. De acordo com o estudo, publicado na última sexta-feira e assinado por Martin Reeves , Philipp Carlsson-Szlezak , Kevin Whitaker e Mark Abraham:

Grandes disrupções podem causar mudanças fundamentais em atitudes sociais e crenças, que podem pavimentar o caminho para novas políticas, jeitos de trabalhar, comportamentos e necessidades de consumo, algumas delas que podem persistir por um longo tempo

Exemplos históricos de mudanças geradas por crises mundiais

O estudo começa analisando como crises mundiais causaram mudanças de longo prazo no comportamento social. Para isso, eles analisam três casos:

  • Segunda Guerra Mundial: as mulheres foram mobilizadas para trabalhar enquanto os homens estavam no front. Após a guerra, a inserção das mulheres no mundo do trabalho não se retraiu;
  • Atentados de 11 de setembro: o risco do terrorismo elevou os padrões de segurança nos aeroportos de forma definitiva, com protocolos de segurança válidos 20 anos depois;
  • Epidemia de SARS em 2003: na China, consumidores aumentaram as compras online durante o isolamento, impulsionando o crescimento do Alibaba e outras plataformas online no país.

Quais mudanças já podemos identificar por causa da covid-19?

Ao analisar a pandemia de covid-19 especificamente, o estudo aponta sinais de algumas mudanças em curso:

  • Percepção da necessidade de melhorar a disponibilidade de serviços de saúde;
  • Redução da interdependência econômica global;
  • Um novo equilíbrio entre família e trabalho nas vidas pessoais.

Essas mudanças tendem a ter impactos em diferentes áreas da vida social e da economia. Os autores do estudo, por exemplo, apontam mudanças desde a higiene no ambiente de trabalho até o modelo de trabalho das agências de segurança, que estão estabelecendo analogias entre o comportamento de uma epidemia ao dos riscos de cibersegurança, e adotando medidas similares de contenção.

Na análise dos autores, eles buscam diferenciar o que é mudança de curto prazo, causada como uma resposta à pandemia, do que é mudança de longo prazo, que tende a permanecer após a crise.

Neste sentido, o estudo aponta uma tendência de crescimento dos modelos de negócio online em detrimento dos presenciais. Alguns exemplos:

  • Ambiente de trabalho: tende a crescer o uso de espaços de trabalho em casa em detrimento dos escritórios comerciais. Com isso, o mercado imobiliario tende a se contrair, especialmente o de escritórios, enquanto móveis e equipamentos para trabalho em casa tendem a crescer;
  • Alimentação: comer em casa tende a ser uma prática mais comum, e os serviços de delivery tendem a ocupar ainda mais os espaços dos restaurantes;
  • Entretenimento: Games e streaming tendem a crescer, enquanto shows presenciais e outras experiências ao vivo tendem a diminuir;
  • Turismo: toda a cadeia de turismo tende à retração, exceto as iniciativas de turismo local, voltada à prápria comunidade;
  • Modelos de trabalho: softwares e plataformas de gestão do trabalho remoto e da produtividade tendem a crescer e escalar neste processo.

Parte desta mudança foi identificada pelos autores ao analisar o padrão de consumo na China pós covid-19. Metade dos chineses aumentaram o consumo de produtos de saúde preventiva, vitaminas, suplementos e alimentos orgânicos. Enquanto isso, Mais de um terço reduziu o consumo em restaurantes, férias e produtos de tabaco.

As oito medidas para prever o futuro

Neste sentido, o estudo aponta oito ações que as empresas podem adotar para se preparar para o mundo pós pandemia de covid-19:

1. Espere as mudanças e se antecipe a elas

Em cenários como este, prospectar o que pode mudar para a frente tende a ser mais eficaz que analisar os indicadores do passado. Isto se dá justamente por causa das mudanças de comportamento que a crise provoca.

2. Entenda as mudanças sociais de forma mais ampla

As mudanças de comportamento neste momento são tão radicais que uma pesquisa com consumidores pode não conseguir captá-las. Isso porque o próprio consumidor tende a não ter clareza de suas novas necessidades. Por isso, o recomendado é analisar os processos de mudança de uma forma global, e validar quais delas devem durar.

3. Analise dados de alta frequência

Justamente porque as mudanças são mais intensas, as empresas precisam analisar os dados não de forma agregada, mas granular e em alta frequência. Ou seja, analisar série históricas com recortes mais finos de tempo. Por exemplo, dados diários de gastos de cartão de crédito. É por aí que as tendências tendem a ser identificadas primeiro.

4. Identifique suas fraquezas reveladas pela crise

Uma crise identifica fraquezas das organizações que as situações de normalidade costumam mascarar. Para os autores, identificá-las e analisá-las ajuda não só no seu processo de melhoria contínua, mas pode ser uma oportunidade de desenvolver novos produtos e soluções. Outras organizações podem ter as mesmas fraquezas que a sua.

5. Estude as regiões que estão na sua frente na crise

De acordo com os epidemiologistas, o Brasil está duas semanas atrás dos Estados Unidos e um mês atrás da Europa na curva de expansão da pandemia. Para os autores do estudo, analisar esses países pode trazer informações valiosas do que esperar por aqui, mesmo que as mudanças de lá tenham que ser adaptadas à realidade brasileira.

6. Rastreie os “mavericks”

“Maverick” é uma expressão que designa o comportamento fora do padrão. Para os autores, em momentos de crise os mavericks podem ser mais hábeis em identificar e endereças as novas tendências. Identificar os mavericks do seu negócio pode trazer insights relevantes para este momento.

7. Descubra quais as mudanças com menos “fricção”

“Fricção” em experiência de usuário designa um incômodo muito forte na mudança de comportamento. Mudanças com menos fricção costumam ter mais aderência das pessoas, mesmo na crise. Para os autores, identificá-las ajuda a priorizar o que fazer, e o que vai trazer mais valor ao seu cliente.

8. Mantenha a esperança e o foco no crescimento

Em outro estudo, publicado na Harvard Business Review na quinta-feira passada, os mesmos autores do BCG mostram que 14% das empresas não só sobrevivem às crises, mas crescem e se tornam lucrativas durante elas. Para os autores, a crise é uma oportunidade de inovar, identificar oportunidades e criar diferenciais para o mercado.

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